Gastronomia

Sabores da Favela Invadem o Centro de BH

Cozinheiros de comunidades periféricas ocupam espaço nobre da capital com pratos de raiz, debates, música e resistência cultural.


Créditos da imagem: (Foto: divulgação)
Mulher negra sorridente, usando touca preta, óculos e avental escrito "Domingos de Favelas", segura um prato de comida típico brasileiro. O prato contém arroz branco, feijão com carnes, couve refogada e farofa. Ao fundo, parede de azulejos coloridos e utensílios de cozinha. O evento aposta na comida como ferramenta de transformação social e visibilidade para empreendedores periféricos

Maria Luíza Mendes

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19/05/25 às 18:04
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Na oitava edição, o Circuito Gastronômico de Favelas promove um encontro direto entre a cozinha popular e o coração de Belo Horizonte. Dez chefs das periferias da capital mineira servirão pratos autorais, enraizados em saberes ados de geração em geração. O evento, gratuito, acontece nos dias 24 e 25 de maio, sábado e domingo, a partir das 12h, no Mercado da Lagoinha.

Além da comida, o público encontrará shows, palestras e oficinas comandadas por nomes como Márcia Nunes (restaurante Dona Lucinha), a quilombola Kriola Taty, premiada pela Fundação Palmares, e a ex-MasterChef Bete Coutinho. A programação inclui ainda o projeto Sopa de Pedra, do chef Américo Piacenza, que vai cozinhar e distribuir seu “Carbonara Mineiro” para pessoas em situação de rua, num ato simbólico de inclusão e ocupação democrática dos espaços urbanos.

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A música fica por conta de Fabinho do Terreiro, que puxa uma roda de samba com lendas vivas do gênero, e da Orquestra Cabaré, que promete um bailão nostálgico no domingo.

Canjiquinha, samba e inclusão social

A partir das 12h, a chef Márcia Nunes abre os trabalhos com uma roda de conversa e uma cozinha-show. No cardápio, a Canjiquinha Salpicada de Vida, prato afetivo que homenageia sua mãe, Dona Lucinha. Para ela, a receita vai além do sabor: é alimento coletivo, memória viva e ferramenta contra a desnutrição infantil, como aponta pesquisa da UFMG.

O chef Américo Piacenza, do projeto Sopa de Pedra, comanda uma oficina e distribui seu Carbonara Mineiro, feito com ingredientes locais como queijo minas e sofrito de alho e cebola, entre moradores de rua. “Não se trata de servir um prato de comida, mas de criar vínculos, quebrar barreiras e cozinhar em pé de igualdade”, afirma Piacenza.

Na trilha sonora, o sambista Fabinho do Terreiro recebe nomes históricos como Dona Elisa, D. Lucinha Bosco e Seu Domingos do Cavaco em uma celebração ao samba mineiro. O DJ Joca encerra o dia com set vibrante.

Sabor ancestral e histórias à mesa

No segundo dia, a chef Beth Coutinho, semifinalista do MasterChef+ 2022, compartilha histórias e receitas da cozinha mineira com seu estilo direto, simples e carregado de afeto. Ela conduz o bate-papo “Simplesinho Mesmo”, no qual conecta memória e tradição com um jeito leve de cozinhar.

Às 13h, a quilombola Kriola Taty toma o palco para falar sobre a resistência cultural através da culinária. Ela apresentará sua broa Kubu, assada em folha de bananeira, e refletirá sobre os saberes das mulheres do Quilombo Mangueiras, onde medidas como “um punhado” e “cinco gotas” seguem preservadas como parte do legado ancestral. “Cozinhar é resistir e manter viva a memória do povo negro”, diz Taty.

Encerrando a festa, a Orquestra Cabaré retorna aos palcos com um show de três horas, embalando o público com clássicos do samba e uma formação de peso com Thiago Delegado, Raquel Coutinho, Marcos Frederico, entre outros. O DJ Thiagão fecha a programação musical do domingo.

Serviço

Circuito Gastronômico de Favelas

Dias 24 e 25 de maio, sábado e domingo

Horário: a partir das 12h

Local: Mercado da Lagoinha – Av. Pres. Antônio Carlos, 821 – Lagoinha, Belo Horizonte

Entrada gratuita